domingo, 24 de novembro de 2013

A Caça (Jagten)

Até que ponto a afirmação de uma criança tem mais impacto que a negativa de um adulto?


Título: A Caça (Jagten)
Ano de lançamento: 2012
País: Dinamarca
Direção: Thomas Vinterberg








Na narrativa, Lukas um professor do jardim da infância,  interpretado pelo muito expressivo Mads Mikkelsen (de O Amante da Rainha, 2013), é acusado de assédio por uma de suas alunas e filha de seu melhor amigo. O ocorrido faz com que os moradores do bairro o persigam exigindo justiça.

Alguns trechos, a seguir, podem conter spoilers que revelam o desfecho 

O filme consegue agrupar muito bem os elementos que se combinam para que o drama ocorra:
Lukas, homem mais velho, separado, sem a guarda do filho adolescente, sem namorada, adorado pelas crianças da creche onde trabalha. 

Klara, aluna de Lukas e filha do seu melhor amigo, que carrega consigo uma paixão platônica e infantil por Lukas que pode ter se desenvolvido devido ao carinho quase paternal que este tem por ela.


No auge de seu sentimento infantil, sente-se preterida e então decide acusar Lukas de assédio. Talvez nem ela imaginava o mal que poderia estar fazendo. 

A excelente fotografia em tons de sépia e cinza conduzem o espectador a um cenário melancólico que emoldura muito bem a estória.

Quando os personagens ficam a par da acusação, é possível ver a vida do professor mudar radicalmente, se desintegrando aos poucos e de forma dolorida. Chega um momento que é impossível não questionar-se sobre o limite que um ser humano consegue suportar sem explodir, sem revindicar a verdade. O personagem Lukas quebra todas essas expectativas quando, mesmo diante de toda a situação,  se cala, não se defende, não acusa, não exige a verdade. Tal comportamento deixa claro que a vontade dele é que aquelas pessoas jamais duvidassem da sua integridade moral. Jamais acreditariam em tal boato. E que elas, por si só, tivessem bom senso e entendessem que a situação é descabível. Mas de nada adianta, pois a afirmação quase detalhada da criança acerca do suposto assédio alavanca ainda mais a ira dos vizinhos contra ele.

Conforme o filme decorre, vê-se que ao lado de Lukas permanecem poucas pessoas, sendo uma delas o filho que luta pela inocência do pai e também sofre duras penas por ter optado defendê-lo e um outro amigo. Enquanto que do outro lado, o amigo e pai da menina, luta contra seu bom senso e confiança para acreditar que a acusação da filha é verdadeira, e é persuadido pela esposa a acreditar na  acusação. 

O filme vale porque faz refletir e pensar em quantos fatos tomamos como verdade por esses persuadirem nossos olhos e ouvidos. Até que ponto o que se mostra tão evidente seria mesmo a verdade absoluta? Seria mesmo verdade que crianças não mentem?

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Lawless Heart

É verdade que nunca soube me despedir das pessoas. E não sei se gostaria de aprender, pois um até logo sempre me doeu menos que um adeus

Apesar de entender que viver é estar em movimento, sou naturalmente estática. Tenho dificuldade em deletar arquivos velhos. As vezes guardo fotografias antigas debaixo da roupa e repousadas sobre o lado esquerdo do peito. Resisto as mudanças como um líquido viscoso que se prende as paredes do recipiente que o contém. E o recipiente que me contém por inteiro e indeterminadamente, é meu coração, que vive sempre tão cheio de emoções e ao mesmo com tanto espaço a ser preenchido. Porque estou constantemente abrindo círculos que nunca se fecham, criando vínculos com pessoas, lugares, coisas, porque os sorrisos me cativam, os olhares me marcam e os cheiros me embriagam.
Sinto que preciso de muito mais espaço para poder guardar tudo que me disseram, os corações que me amaram, aqueles que amei, os que me desprezaram, aqueles que desprezei... Preciso lembrar daquele jeans que não me entra mais e que eu costumava combiná-lo com aquela camisa que jamais voltaria a usar, mas ela está lá, no fundo da minha memória e eu quero poder acessá-la quando quiser.


Percebo que os anos passam e não me preocupo com as rugas, com o cabelo que vai clarear, com as articulações que vão enrijecer... Quero mais memória para poder armazenar tantas lembranças e um coração maior para guardar tantas emoções.

E por pensar assim entendo que a verdadeira dificuldade que o envelhecer oferece é que o corpo se torna "pequeno" perante tudo que acumulamos. 

Seria então egoísta achar injusto que os jovens tenham tanto espaço na memória e bem menos para armazenar?


Crédito das imagens: Cenas do vídeo clipe da música "It's Raining Again" do Supertramp. Este foi um dos primeiros vídeos clipes que assisti e até hoje fico pensando que ele deveria ter um guarda-chuva desde o início (risos).


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