Título: A Caça (Jagten)
Ano de lançamento: 2012
País: Dinamarca
Direção: Thomas Vinterberg
Na narrativa, Lukas um professor do jardim da infância, interpretado pelo muito expressivo Mads Mikkelsen (de O Amante da Rainha, 2013), é acusado de assédio por uma de suas alunas e filha de seu melhor amigo. O ocorrido faz com que os moradores do bairro o persigam exigindo justiça.
Alguns trechos, a seguir, podem conter spoilers que revelam o desfecho
O filme consegue agrupar muito bem os elementos que se combinam para que o drama ocorra:
Lukas, homem mais velho, separado, sem a guarda do filho adolescente, sem namorada, adorado pelas crianças da creche onde trabalha.
Klara, aluna de Lukas e filha do seu melhor amigo, que carrega consigo uma paixão platônica e infantil por Lukas que pode ter se desenvolvido devido ao carinho quase paternal que este tem por ela.
No auge de seu sentimento infantil, sente-se preterida e então decide acusar Lukas de assédio. Talvez nem ela imaginava o mal que poderia estar fazendo.
A excelente fotografia em tons de sépia e cinza conduzem o espectador a um cenário melancólico que emoldura muito bem a estória.
Quando os personagens ficam a par da acusação, é possível ver a vida do professor mudar radicalmente, se desintegrando aos poucos e de forma dolorida. Chega um momento que é impossível não questionar-se sobre o limite que um ser humano consegue suportar sem explodir, sem revindicar a verdade. O personagem Lukas quebra todas essas expectativas quando, mesmo diante de toda a situação, se cala, não se defende, não acusa, não exige a verdade. Tal comportamento deixa claro que a vontade dele é que aquelas pessoas jamais duvidassem da sua integridade moral. Jamais acreditariam em tal boato. E que elas, por si só, tivessem bom senso e entendessem que a situação é descabível. Mas de nada adianta, pois a afirmação quase detalhada da criança acerca do suposto assédio alavanca ainda mais a ira dos vizinhos contra ele.
Conforme o filme decorre, vê-se que ao lado de Lukas permanecem poucas pessoas, sendo uma delas o filho que luta pela inocência do pai e também sofre duras penas por ter optado defendê-lo e um outro amigo. Enquanto que do outro lado, o amigo e pai da menina, luta contra seu bom senso e confiança para acreditar que a acusação da filha é verdadeira, e é persuadido pela esposa a acreditar na acusação.
O filme vale porque faz refletir e pensar em quantos fatos tomamos como verdade por esses persuadirem nossos olhos e ouvidos. Até que ponto o que se mostra tão evidente seria mesmo a verdade absoluta? Seria mesmo verdade que crianças não mentem?